sábado, 28 de junho de 2008

Abraçado por un anjo


Ao longo desta semana que passou, uma montanha russa de emoções avassalou o meu estado de presença. Estive outra vez a trabalhar à noite. No meio da solidão nocturna, fui invadido por um profundo vazio que preencheu cada partícula do meu ser. Não posso dizer que não gosto da noite, a sua serenidade, estar fora do frenesim diário da metrópole, mas o meu sistema parece ter dificuldades em adaptar-se, sobretudo porque normalmente, só trabalho nesse horário durante uma semana.
O que normalmente me incomoda é deixar-me corromper pela suposta “necessidade” de dinheiro e deixar-me levar pela crença de que tenho mesmo de trabalhar à noite. É claro que associada a esta decisão está a perturbação da minha vida própria, a minha vida fora do trabalho. Toda esta insatisfação acaba por repercutir-se nas minhas relações pessoais e sociais claro. Fico apático, fecho-me no meu pensamento isolando-me no meu cantinho. Tudo parece um problema nessa altura. Esqueço-me da minha vida, esqueço-me do que realmente é importante para mim focando a minha atenção sobre a minha miséria que passou a ter toda a minha energia. Tudo o resto tornou-se relativo até a minha relação conjugal. De repente, nada estava bem. Todas as pessoas à minha volta eram um amontoado de defeitos, eu próprio o era. Falar com alguém tornava-se castigo pois o meu espaço era invadido. Obviamente que o que procurava era paz mental.
Escusado será dizer que acendi várias discussões as quais não ficaram saradas depois de terem acontecidas.
Mas no final, depois de um remoinho mental pensei inadvertidamente e por sugestão, como seria se no dia seguinte algo acontecesse a uma pessoa que amo. Quereria que as minhas últimas palavras fossem as que tive com as pessoas com quem me relacionei e com quem fui um mal disposto? Gostaria de me despedir das pessoas com quem fiquei zangado sem qualquer razão aparente senão a minha vontade egoísta de descarregar a minha insatisfação? Seria essa a forma como me quereria despedir delas? Nos segundos que se seguiram, todos os meus problemas, todas as minhas preocupações se tornaram completamente insignificantes. Todo o meu ser ficou repleto de amor. Senti-me novamente abraçado pelo anjo que me acompanha. Tinha finalmente percebido toda a amplitude da frase que toda a semana tinha escrito e reescrito na minha mão como algo a recordar e a aplicar: O que resiste, persiste.

Sem comentários: