quarta-feira, 28 de maio de 2008

A dor serve para alguma coisa?

Ainda de manhã, sempre no caminho para o trabalho (parece que a minha vida somente se resume ao antes e depois do trabalho ehehe) o dia apresentava-se húmido. Ao cruzar uma esquina, equilibro-me numa contorção corporal dolorosa mas permanecendo erecto e seco, após ter derrapado sobre a calçada molhada. Uma dor aguda percorre o meu corpo abrindo espaço para pensamentos sobre a razão daquele evento. De imediato, começo a vitimar-me num choro infantil no meio do qual afirmo que se o dia começou desta forma, este iria prometer ser um dia complicado. Ao sair do metro e já tendo esquecido o episódio doloroso anterior, uma rajada de vento faz embater contra a minha cabeça o chapéu de chuva. Sentindo-me infeliz, começo a perguntar-me porque me acontece isso? E de um momento para o outro, a junção dos dois eventos tornam-se cada vez mais importantes. Sempre mantendo o pensamento positivo, ignoro o sucedido com afirmações também positivas. Alguns minutos depois, outra rajada atinge-me novamente com o chapéu de chuva. Raivoso, começo a praguejar afirmando que somente a mim pode acontecer tal injustiça. “O que terei feito para ser fustigado daquela forma” pergunto-me, “será que mereço tal castigo”, já mais calmo, “ será que existe alguma aprendizagem atrás desta miserável experiência” a partir daí, uma espiral mental é criada numa tentativa de interpretar se estava com a cabeça na lua, ou se porventura deveria parar com a minha inútil meditação matinal que deveria ajudar-me a evitar estes “desenraizamentos”, entre outras possibilidades absurdas. Insatisfeito, desisto de perceber e digo para mim mesmo: “seja o que for, isto não me irá estragar o meu dia”. Triunfante, chego ao trabalho e acendo um cigarro para queimar os últimos minutos antes de entrar. Ao esvaziar a mente de qualquer pensamento contemplando a vegetação a minha volta, olho para o cigarro e de repente, apercebo-me que estou a fugir ao nervosismo. Que estou a fumar porque me faz sentir mais calmo e ajuda-me a esquecer os momentos mais dolorosos nem que seja durante aqueles breves segundos entre acender e apagar o cigarro. Naquele momento, estou totalmente dedicado a inspirar um veneno, o fumo do tabaco, e expirar outro, a dor de momentos mais complicados.
Algumas perguntas surgem depois deste momento: “Haverá alguma razão para fugir a dor? Não será ela necessária para nos sentirmos vivos?”. Acabo por concluir que a minha vida é uma sequência frustrada em nunca sentir mal-estar. É claro que nunca tive sucesso nessa tarefa.

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